Atônito, impressionado, desconcertado – sentado aqui
Escrevendo essas linhas, pensando no que se passou nos últimos meses
Sou testemunha ocular de uma oblação – um sacríficio precioso
Uma oferta entregue ao coração de Deus – sem estar explicíto por meio de
palavras
Um verdadeiro ato elucidado de excluir-se, esquecer-se, renunciar-se
Uma espécie de atitude sobrenatural diante um mundo animal
Que não conhece o que é o amor – e só sabe buscar o que dá prazer
Fugindo da dor – querendo se esconder da realidade
Do que todos nós somos feitos – mas com o coração focado no que é
terreno
Não tem capacidade para elevar-se e sair dos instintos
E trocar os anseios banais pelos mais elevados
Assim você se doou – sem pensar no que aconteceria
Uma vida dentro de ti então gerou – e não importa quanto doía
Uma alma e um coração bateram fraquinho – do lado de dentro do seu
ventre
E aos poucos foi crescendo – trazendo muitas dificuldades ao seu
exterior
E essas dores se ajuntaram às outras dores e formaram
Um emaranhado de sofrimento, um caminho estreito a trilhar
Um caminho de sufrágio – muitas pedras para pisar
E machucar a fragilidade do pó integrado a sua alma
Ao seu corpo de misérias e pecados – mas que sem limites foi alvo
De uma angústia que vivia a palpitar e se alastrar
Para todo o organismo – como uma doença fosse
Alcançou todas as partes possíveis e imagináveis
E gerou insônia e estresse – chegou na alma
E causou as distopias mais rígidas – que antes não conhecia
E selou com um mar de chamas o calor que já abrasava
E a deixou em meio as cinzas – chorando e clamando
Em meio as lágrimas e muito choro – as orações e o desconforto
O querer sumir e voltar de novo
Os desejos incontroláveis de fugir do plano material
Sabendo que a humanidade não foi feita para esse estopim
Mas que como tudo tem um fim – o final que demorou também chegou
E a alegria que há muito estava ausente retornou
Com um vigor reconfortante, num momento tão marcante
O nascimento do quarto herdeiro – o primogênito do mundo inteiro
Pois sua vinda e entrada nesse mundo trouxe alegria
Mas o preço desses tickets, foi o mais caro que existia
Não que não possa haver meios piores e incontroláveis
Que outras pessoas tenham passado e pagam preços inimagináveis
Mas você bateu o record de suportar as contrariedades
Em meio ao ranger de dentes do sofrimento alastrado
Dia e noite se fundiram – pois seu purgatório foi estendido
E de forma espiritual você foi agraciada – escolhida
Para carregar as dores do sofrimento das mulheres que fogem
Do parto natural – dos meios não artificiais de dar a vida
E a luz que brilhou, da vida que você gestou foi infinita
Talvez não tenhamos noção, do poder desse corban (מִנְחָה)
Mas tenho certeza, pela fé, que a oferenda está em pé
E um sacrifício aconteceu – de ti mesma – foi o seu
E o fruto que nasceu está aí para atestar
A vida que brota da morte – com tanta graça veio dar
Força e renovar a esperança que a morte não tem vez
Que o amor de Deus supera tudo – e até mesmo o que não ainda não fez
Sentido – um dia ou uma hora vai fazer
E o brilho da felicidade vai reinar – desde agora e para sempre
E a alegria vai colocar em ordem – o que a desordem deixou
E o amor que é verdadeiro deixa impresso em nosso meio
Ele é perene – não tem jeito – não tem como escapar
O que é verdade permanece – ainda que tudo o contrário ateste
Pra quem é de Deus o tempo é só um detalhe
O que importa é o despojamento voluntário – intransigente
De uma decisão de trazer a termo – o que a benção um dia lhe confiou
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