domingo, 16 de junho de 2024

CORBAN (מִנְחָה)

Atônito, impressionado, desconcertado – sentado aqui

Escrevendo essas linhas, pensando no que se passou nos últimos meses

Sou testemunha ocular de uma oblação – um sacríficio precioso

Uma oferta entregue ao coração de Deus – sem estar explicíto por meio de palavras

Um verdadeiro ato elucidado de excluir-se, esquecer-se, renunciar-se

Uma espécie de atitude sobrenatural diante um mundo animal

Que não conhece o que é o amor – e só sabe buscar o que dá prazer

Fugindo da dor – querendo se esconder da realidade

Do que todos nós somos feitos – mas com o coração focado no que é terreno

Não tem capacidade para elevar-se e sair dos instintos

E trocar os anseios banais pelos mais elevados

Assim você se doou – sem pensar no que aconteceria

Uma vida dentro de ti então gerou – e não importa quanto doía

Uma alma e um coração bateram fraquinho – do lado de dentro do seu ventre

E aos poucos foi crescendo – trazendo muitas dificuldades ao seu exterior

E essas dores se ajuntaram às outras dores e formaram

Um emaranhado de sofrimento, um caminho estreito a trilhar

Um caminho de sufrágio – muitas pedras para pisar

E machucar a fragilidade do pó integrado a sua alma

Ao seu corpo de misérias e pecados – mas que sem limites foi alvo

De uma angústia que vivia a palpitar e se alastrar

Para todo o organismo – como uma doença fosse

Alcançou todas as partes possíveis e imagináveis

E gerou insônia e estresse – chegou na alma

E causou as distopias mais rígidas – que antes não conhecia

E selou com um mar de chamas o calor que já abrasava

E a deixou em meio as cinzas – chorando e clamando

Em meio as lágrimas e muito choro – as orações e o desconforto

O querer sumir e voltar de novo

Os desejos incontroláveis de fugir do plano material

Sabendo que a humanidade não foi feita para esse estopim

Mas que como tudo tem um fim – o final que demorou também chegou

E a alegria que há muito estava ausente retornou

Com um vigor reconfortante, num momento tão marcante

O nascimento do quarto herdeiro – o primogênito do mundo inteiro

Pois sua vinda e entrada nesse mundo trouxe alegria

Mas o preço desses tickets, foi o mais caro que existia

Não que não possa haver meios piores e incontroláveis

Que outras pessoas tenham passado e pagam preços inimagináveis

Mas você bateu o record de suportar as contrariedades

Em meio ao ranger de dentes do sofrimento alastrado

Dia e noite se fundiram – pois seu purgatório foi estendido

E de forma espiritual você foi agraciada – escolhida

Para carregar as dores do sofrimento das mulheres que fogem

Do parto natural – dos meios não artificiais de dar a vida

E a luz que brilhou, da vida que você gestou foi infinita

Talvez não tenhamos noção, do poder desse corban (מִנְחָה)

Mas tenho certeza, pela fé, que a oferenda está em pé

E um sacrifício aconteceu – de ti mesma – foi o seu

E o fruto que nasceu está aí para atestar

A vida que brota da morte – com tanta graça veio dar

Força e renovar a esperança que a morte não tem vez

Que o amor de Deus supera tudo – e até mesmo o que não ainda não fez

Sentido – um dia ou uma hora vai fazer

E o brilho da felicidade vai reinar – desde agora e para sempre

E a alegria vai colocar em ordem – o que a desordem deixou

E o amor que é verdadeiro deixa impresso em nosso meio

Ele é perene – não tem jeito – não tem como escapar

O que é verdade permanece – ainda que tudo o contrário ateste

Pra quem é de Deus o tempo é só um detalhe

O que importa é o despojamento voluntário – intransigente

De uma decisão de trazer a termo – o que a benção um dia lhe confiou